“E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos.”
— Atos dos Apóstolos 2:17 (citação do profeta Joel 2:28)
Introdução
Entre os diversos fenômenos mediúnicos observados nas casas espíritas, há relatos frequentes de médiuns que recebem orientações de seus mentores ou Espíritos comunicantes pedindo que estudem determinado tema antes de uma psicografia ou reunião. À primeira vista, pode parecer curioso — afinal, se o Espírito vai ditar a mensagem, por que o médium precisa conhecer o assunto?
A resposta, à luz da Doutrina Espírita, revela-se profunda e instrutiva. O estudo não é apenas um ato de preparo intelectual, mas uma forma de afinar a sintonia entre médium e Espírito, ampliando as possibilidades de expressão e entendimento da mensagem espiritual. Lembrando que o médium consciente e o semi consciente são os que mais precisam desse preparo, não deixando, é claro, que o médium inconsciente necessite também desse estudo, que, apesar da forma que sua mediunidade se apresenta, assim mesmo o espírito vai se utilizar dos seus conhecimentos, estruturas profundas de sua psique para expressar-se no momento da comunicação.
O Médium como Intérprete do Pensamento Espiritual
Em O Livro dos Médiuns (cap. XIX, item 223), Kardec ensina que o Espírito não dita palavras, como se o médium fosse uma máquina de escrever. O que o Espírito realmente transmite são ideias, que o médium traduz segundo seu próprio vocabulário, cultura e estrutura mental.
O médium inconsciente (ou sonambúlico) é aquele que, durante a comunicação, perde a consciência do que faz ou escreve. Ele não recorda o conteúdo transmitido e, muitas vezes, nem percebe o que está ocorrendo com seu corpo.
No entanto, isso não significa que sua mente esteja “desligada” ou totalmente excluída do processo.
O Espírito comunicante age sobre o perispírito do médium, e este, por sua vez, atua sobre o corpo físico, produzindo os gestos, a fala ou a escrita. Assim, o médium é sempre o instrumento necessário, mesmo sem consciência do que se passa.
“Os Espíritos não se servem de nossas palavras, mas de nossos pensamentos para se exprimirem. […] Os Espíritos superiores só se comunicam por meio de médiuns cujo cérebro e conhecimentos lhes oferecem os meios de se exprimir com clareza.” (O Livro dos Médiuns, cap. XIX, item 223)
Dessa forma, o médium atua como intérprete fluídico. O Espírito comunicante envia a ideia espiritual, e o médium a converte em linguagem humana, utilizando os recursos de sua própria mente. Se o médium tem um vocabulário limitado ou desconhece o tema abordado, o Espírito encontra dificuldades para expressar suas ideias com precisão.
O Estudo Como Ampliação do Repertório Mental
Quando o médium estuda um assunto, ele acumula conceitos, palavras e referências mentais que o Espírito pode utilizar durante a comunicação. O estudo é a preparação do instrumento, o enriquecimento das ferramentas mentais que o Espírito utilizará.
Médiuns que psicografam textos filosóficos, científicos, poéticos ou evangélicos são frequentemente orientados a ler, refletir e compreender profundamente essas áreas. Assim, quando o Espírito se manifesta, encontra no cérebro do médium um campo fértil de ideias e expressões que facilitam a tradução da mensagem espiritual para o plano humano.
A Sintonia Mental e Vibratória
O estudo não tem apenas valor intelectual — ele também tem valor vibratório e moral. Ao estudar um tema nobre, o médium sintoniza-se mentalmente com Espíritos que trabalham nesse campo de conhecimento. Essa sintonia é uma ponte fluídica que permite a comunicação mais pura e harmônica.
O estudo é um ato de sintonia, de harmonização mental com as esferas superiores. É uma forma de dizer ao mundo espiritual: “Estou preparado e disposto a colaborar conscientemente.”
O Papel do Estudo no Médium Inconsciente
Mesmo o médium inconsciente precisa estudar. O Espírito comunicante utiliza o organismo e o cérebro físico do médium para expressar suas ideias. Se esse cérebro estiver intelectualmente preparado e com vibração elevada, o Espírito encontrará melhores condições para transmitir com clareza e fidelidade o pensamento que deseja comunicar.
Além disso, fora do transe, o médium inconsciente precisa compreender o que realiza, participar da análise das comunicações, aprimorar seu discernimento e crescer espiritualmente com a tarefa mediúnica.
“O conhecimento das leis que regem a mediunidade preserva o médium dos perigos da obsessão e da fascinação.” (O Livro dos Médiuns, cap. XX)
O Estudo Como Proteção e Discernimento
A mediunidade é uma faculdade neutra — pode ser utilizada para o bem ou para o mal, conforme a intenção e o preparo do médium. O estudo e o esclarecimento doutrinário são escudos contra o engano espiritual e moral.
O estudo, aliado à oração e à reforma íntima, é a base da mediunidade segura e responsável.
A Missão Espiritual do Estudo
Quando os Espíritos superiores pedem que o médium estude, eles não estão apenas preparando-o para uma comunicação específica. Estão educando-o para o serviço espiritual consciente, desenvolvendo assim o raciocínio e a fé raciocinada.
“Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VI, item 5)
A instrução, portanto, é um dever espiritual. Estudar é também um ato de caridade para consigo mesmo, pois ilumina a mente, purifica as intenções e prepara o médium para servir melhor.
Assim sendo…
Os Espíritos pedem que o médium estude porque o estudo é a preparação do instrumento. O Espírito não fala por palavras, mas por ideias; e o médium só pode transmitir com clareza aquilo que compreende, ainda que parcialmente.
O estudo amplia a mente, eleva a vibração, aperfeiçoa a sintonia e torna o médium um cooperador consciente da obra do bem.
“A mediunidade é uma faculdade que se deve santificar pelo estudo e pela prática do bem.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXVI)
Resumo Doutrinário
| Tipo de preparo | Finalidade espiritual |
| Estudo doutrinário | Fortalece o discernimento e previne a fascinação. |
| Estudo do tema sugerido pelo Espírito | Oferece base mental e vocabulário para expressar ideias complexas. |
| Estudo moral e evangélico | Eleva a vibração e favorece a sintonia com Espíritos superiores. |
| Estudo da própria mediunidade | Ensina o médium a compreender, disciplinar e servir com responsabilidade. |
Reflexão Final
Estudar é orar com a mente. Quando o médium estuda, ele abre seu pensamento à luz da razão e da verdade. Quando serve com humildade e discernimento, transforma a mediunidade em instrumento de caridade e progresso espiritual, fiel ao lema do Espiritismo:
“A fé raciocinada pode-se dizer que seja amor em ação.”
Prof. Wagner Ideali
Bibliografia para Consulta
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB – Federação Espírita Brasileira.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB – Federação Espírita Brasileira.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB – Federação Espírita Brasileira.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador (pelo Espírito Emmanuel). FEB.
PEREIRA, Yvonne A. Recordações da Mediunidade. FEB.
ANDRE LUIZ (pelo médium Francisco Cândido Xavier). Nos Domínios da Mediunidade. FEB.Wagner Ideali
