Análise Espírita dos Evangelhos Apócrifos e possíveis as Verdades Neles Existentes

“As minhas palavras não passarão.”
Mateus 24:35


Os Evangelhos Apócrifos constituem um conjunto de textos antigos que, embora relacionados à figura de Jesus e à sua mensagem espiritual, foram excluídos do cânon bíblico oficial definido pela Igreja, especialmente a partir do Concílio de Niceia (325 d.C.). No entanto, para uma visão espírita, esses evangelhos não devem ser vistos como simples obras rejeitadas, mas como fragmentos de ensinamentos espirituais que, em muitos casos, mantêm afinidade com os princípios do Espiritismo e com a mensagem moral do Cristo.

Do ponto de vista espírita, o valor de um texto não está em sua inclusão ou exclusão por uma instituição humana, mas na sua essência moral, na elevação espiritual que inspira e na coerência com a Lei de Amor e Justiça que rege o Universo. Assim, ao analisarmos os Evangelhos Apócrifos à luz da Doutrina Espírita, podemos encontrar importantes verdades espirituais que se alinham com os ensinamentos de Jesus e com os princípios revelados pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec.

Entre os evangelhos apócrifos mais conhecidos, destacam-se:


– O Evangelho de Tomé
– O Evangelho de Maria Madalena
– O Evangelho de Filipe
– O Protoevangelho de Tiago
– O Evangelho de Pedro
– O Evangelho da Verdade
– O Evangelho dos Hebreus
– O Evangelho de Judas

Cada um desses textos traz uma perspectiva singular sobre a vida, os ensinamentos e a missão de Jesus. O Evangelho de Tomé, por exemplo, apresenta 114 frases atribuídas ao Mestre, muitas das quais enfatizam o autoconhecimento e a iluminação interior: “O Reino está dentro de vós e fora de vós”, o que ressoa fortemente com o princípio espírita de que a transformação do mundo começa pela transformação íntima.

O Evangelho de Maria Madalena enfatiza a importância da consciência espiritual e do papel da mulher como portadora de sabedoria e intuição, algo que o Espiritismo reconhece ao afirmar que todos os Espíritos, independentemente do gênero, possuem a mesma potencialidade de evolução. Já o Evangelho de Filipe traz reflexões sobre o amor, a união das almas e a comunhão espiritual, aproximando-se do ideal de fraternidade universal.

O Protoevangelho de Tiago narra detalhes do nascimento e infância de Maria e de Jesus, trazendo elementos simbólicos que, embora envoltos em tradições místicas, apontam para a pureza espiritual e a preparação do Espírito de Jesus para sua missão divina. O Evangelho de Pedro, por sua vez, descreve aspectos da crucificação e ressurreição sob uma ótica mais espiritualizada, sugerindo que o Cristo transcende a matéria e apresenta a todos a volta a vida, vencendo a morte, pois é o tema central da Doutrina Espírita.

O Evangelho de Judas, frequentemente mal compreendido, apresenta Judas não como traidor, mas como instrumento do seu livre arbítrio, revelando um ponto de vista que estimula reflexão sobre o papel desse tao falado livre-arbítrio e das provas e expiações que normalmente precisamos vivenciar — conceitos fundamentais no Espiritismo.

Esses textos foram retirados do cânon bíblico por diversas razões, entre elas divergências teológicas, doutrinárias e interesses políticos da época. Entretanto, quando analisados espiritualmente, revelam ensinamentos de profundo valor moral e filosófico, que convidam à elevação da consciência e à busca da verdade interior.

O Espiritismo não os adota como livros sagrados, mas os reconhece como fontes históricas e espirituais que podem contribuir para uma compreensão mais ampla da mensagem do Cristo. Ao lê-los com discernimento, percebemos que as “verdades neles existentes” estão em perfeita harmonia com a revelação que os Espíritos Superiores trouxeram a Kardec: a de que o Espírito é imortal, de que a evolução é lei divina e de que o amor é o caminho que conduz à perfeição.

Dessa forma, os Evangelhos Apócrifos, analisados com as devidas  reservas,  ao lado do Evangelho Segundo o Espiritismo, convidam o ser humano à reflexão profunda sobre a mensagem eterna do Cristo — não um Cristo de dogmas ou de rituais, mas o Cristo vivo, Espírito de Luz que ilumina todos os tempos e todas as consciências.

Prof. Wagner Ideali